BRUXISMO – o que podemos fazer?
Entramos em um campo de muitas controvérsias, por isso, há necessidade de embasamento em pesquisas para definirmos conceitos e protocolos.
Em 2013, foi publicado um consenso internacional para definição e graduação do bruxismo por Lobbezoo et al. Porém, mais pesquisas são necessárias para que se entenda totalmente sua etiologia e fisiopatologia. Esse consenso, revisto em 2018, estabeleceu a seguinte definição:
Bruxismo é uma atividade da musculatura mastigatória repetitiva caracterizada por apertamento ou ranger de dentes e/ou segurar ou empurrar a mandíbula (com ou sem contato entre dentes).
Essa definição trouxe uma visão atual de que o bruxismo é, principalmente, regulado centralmente e com o consenso emergente de que o bruxismo pode envolver mais do que o contato com os dentes, inclusive com envolvimento do sistema nervoso autônomo mediado por vários neurotransmissores, principalmente, a dopamina.
Seu mecanismo é, simplificadamente, o seguinte (contagem regressiva):
Portanto, o conhecimento científico atual não nos permite afirmar que há relação causal entre alterações da oclusão dentária ou morfologia facial e bruxismo.
Essa atividade repetitiva da musculatura mastigatória tem duas manifestações circadianas: pode ocorrer durante o sono ou quando acordado, sendo duas condições distintas, com fisiopatologia e tratamento diferentes.
O Bruxismo do Sono (BS), rítmico (ranger) ou tônico (apertamento), tem correlação com micro despertares e ativação do sistema simpático, ocorre principalmente no sono leve (N1, N2 e às vezes REM) e o Bruxismo em Vigília (BV) tem mais características de segurar ou empurrar a mandíbula, com ou sem contato dentário e está intimamente relacionado a aspectos psicossociais (estresse, concentração e ansiedade principalmente).
Essa dualidade também se apresenta quanto às consequências do bruxismo: VILÃO OU HERÓI? Em indivíduos saudáveis, o bruxismo não deve ser considerado um distúrbio, mas como um comportamento que pode ser um fator de risco para certas consequências clínicas como desgastes dentários, perdas periodontais, dor e/ou hipertrofia muscular, DTM, entre outros ou pode ser um fator de proteção em algumas situações como na apneia obstrutiva do sono ao liberar a passagem do ar movimentando a mandíbula ou no refluxo gastroesofágico, na tentativa de melhorar a salivação.
Sua etiologia é complexa e multifatorial, muitas vezes ligada à predisposição genética, podendo ser idiopática ou mesmo se associar a outras patologias. Há fatores de risco que devemos investigar e tratar ou controlar, tais como:
- Aspectos psicossociais como estresse e ansiedade;
- Aspectos comportamentais como TDAH;
- Sono não reparador;
- Obstrução das vias aéreas superiores, devido à superficialização do sono (alta prevalência nas crianças);
- Apneia obstrutiva do sono;
- Refluxo gastroesofágico;
- Cigarro, drogas ou medicamentos ao atuar no sistema dopaminérgico;
- Algumas síndromes com alterações neurológicas;
- Parasitose em crianças, há evidencias, mas não comprovação cientifica.
O diagnóstico envolve relato pessoal, inspeção clínica e polissonografia e é transdisciplinar.
Então, o que podemos fazer?
E é importante salientar que bruxismo não tem tratamento, apenas controle de fatores de risco, mudanças de estilo de vida, higiene do sono, placas de mordida rígidas para proteção dentária e medicação por curto período de tempo.
REFERÊNCIAS
LOBBEZOO, F. et al. International consensus on the assessment of bruxism: Report of a work in progress. J Oral Rehabil., Oxford, v. 45, n. 11, p. 837-844, Nov. 2018.
KATO, T. et al. Sleep Bruxism: an oromotor activity secondary to micro-arousal. J Dent Res., Chicago, v. 80, n. 10, p. 1940-1944, Oct. 2001.
LAVIGNE, G. J. et al. Genesis of sleep bruxism: motor and autonomic-cardiac interactions. Arch Oral Biol., Oxford, v. 52, n. 4, p. 381-384, Apr. 2007